A Minha Criança

Com o tempo a gente aprende que a vida é muito mais do que a busca por aplausos e vamos percebendo que a verdadeira alegria não é fazer com que outras pessoas nos admirem, mas sim, quando passamos a nos admirar, mesmo com todos nossos defeitos.

Quando conseguimos nos surpreender com o nosso interior, automaticamente surpreenderemos a todos.
É mais simples do que imaginamos. Ser feliz, não quer dizer que tenhamos que estar num estado de euforia constante, mas a paz que aprendemos a ter, nos torna felizes até em momentos de tristeza e adversidades.

Aprender a renunciar o que nos faz sofrer requer um olhar além das circunstancias, não é fácil, leva um tempo considerável, quiçá a vida inteira. Mas vale a pena buscar esta sabedoria.

Há muitos anos atrás eu trancafiei uma menininha, num lugar que só eu sei, eu tinha medo que ela incomodasse alguém ou fizesse alguma coisa errada. Essa menininha nunca reclamou por estar presa, mas em seus olhos percebia que ela queria viver. Eu sentia que ela ansiava pela liberdade. Mesmo sabendo de toda a dor que ela sentia, não a soltei. Não a deixava brilhar, não conseguia nem olhar pra ela. Às vezes, por um descuido, a olhava, mas logo depois chorava e tentava a esquecer. Ela representava todos os meus traumas, minhas lembranças, as minhas angústias e medos. Todos a viam como uma criança linda e eu a enxergava como uma ameaça, crianças são imprevisíveis, vai que ela dá uma mancada... E a culpa seria minha.

Também queria protegê-la, tinha medo que ela sofresse e que alguém a magoasse ou rejeitasse... Alguns princípios que eu considerava importantes falavam mais alto do que aquela voz abafada, as vezes pelo meu ego, as vezes pela minha inconstancia. Princípios estes que eu não seguia por mim mesma, nem por amor, mas para ser aplaudida por outros, por isso nunca estava satisfeita, por mais aplausos que recebesse, eu não me admirava, nem que ganhasse o Oscar adiantaria.

Quando não nos admiramos, nem todos os elogios e vitórias do mundo são suficientes para sermos felizes.

Eu tinha certo orgulho de ser o que os outros esperavam de mim, mas sempre decepcionei a menininha. Fazendo-a ficar no seu mundo, no seu canto, sem verdadeiro canto. Fazendo-a se sentir rejeitada e oprimindo seus sonhos e pensamentos. Eu não a considerava muito inteligente, nem muito interessante, nem muito amada, nem um pouco fascinante...

Um dia desses peguei uma ‘promessinha’, daquelas caixinhas de maná, dizia assim: ‘’Assim como uma mãe consola uma criança, Deus te consolará. ’’. Pensei: Pronto, lá vem bomba. O que será que acontecerá, pra Deus precisar me consolar...
Coloquei aquele escrito em cima de uma bíblia e retirei outra promessinha (não sou fã das caixinhas de promessas, mas aquele dia estava angustiada demais pra procurar por uma palavra na Bíblia).
Bem, continuando, retirei outra e dizia: ‘’Assim como uma mãe consola uma criança, Deus te consolará. ’’(o mesmo escrito só que em uma cor diferente.). Pronto, vai acontecer alguma coisa ruim!! Pensei.
Fui para o meu quarto, fechei a porta ajoelhei-me e ali fiz a oração mais sincera que meu coração permitiu, contei tudo, tudo pra Deus. Por um instante tudo ficou escuro e vi meu rosto infantil e iluminado. Me vi com uns seis ou sete anos. Foi incrível, surpreendente e emocionante. Estava ali a menininha, aquela a quem eu estava me referindo anteriormente.

Enquanto o rosto da minha criança brilhava diante de mim uma voz começou a falar assim:
‘’ Não tenhas medo menina, não chore mais, você é muito amada.
Se soubesses o poder que tens, de comover um coração nunca mais te calarias diante de ninguém. Voe menina, voe, ame, tente mais uma vez, siga, continue menina, você está livre, você pode sair... Cante menininha, seja feliz, não tenha tanto medo de sofrer, pois se você sofrer, como uma mãe consola sua criança, eu te consolarei, se você cair e se machucar, eu estou aqui pra sarar tuas feridas e se você tropeçar, sou eu quem te amparo. Eu nunca te deixei. Eu te consolo. ’’

Não pude conter minhas lágrimas diante daquelas palavras, palavras estas que Deus falara pra menininha que eu havia rejeitado.
(Se você se sente rejeitado, é porque se rejeitou primeiro).
Saí correndo do meu quarto e fui contar pra minha avó o grande gesto de amor de meu Deus, PAI celestial lindo!

Essa visão me fez entender o seguinte:
Quando Deus diz que vai te consolar, não significa necessariamente que você irá sofrer, mas que você não precisa ter medo de sofrer, pois Ele sempre estará disponível pra te ajudar a superar qualquer coisa!

Cada um de nós leva dentro de si uma criança, Deus nos deu a responsabilidade de cuidar desta criança, trata-la bem, ama-la de verdade. Temos que fazer esta criança ser feliz. Ensinar essa criança o caminho certo a seguir, para que ela não se desvie. Para que ela não se perca.

Deixe a sua criança sorrir, brincar, correr. Não a xingue tanto quando ela fizer alguma coisa errada, apenas ensine-a e ame-a, para que ela absorva o aprendizado. Não sinta vergonha do choro da sua criança, nem do seu jeito, oras espontâneo, oras tímido de ser .
Se você tem a trancado, solte-a.
O amor que você dá a esta criança será o teu brilho, a tua beleza, a tua confiança e a tua segurança. Veja-se como uma criança, trate-se como uma criança e serás realmente maduro. Cuide bem de sua criança e seja um herói pra ela.

Quando tiveres a admiração da sua criança e quando fores aplaudido por ela, serás verdadeiramente feliz.

Resolvi cuidar da minha criança, pois encontrei nela a beleza e doçura que tanto procurei. Encontrei em minha criança a pureza e sinceridade que tanto exigia dos outros. Descobri uma criança única que tem um tesouro ímpar. Que tem um Deus maravilhoso. Resolvi amar a minha criança, pois somente assim aprenderei a amar ao meu próximo. Resolvi ser importante para esta criança. Ela vai ficar bem.